3 coletivos e 3 livros para conhecer melhor a luta negra

Os coletivos negros são formados a partir da união de ativistas, e significam uma forma muito eficaz de dialogar com a população. Agindo quase sempre de forma autônoma, esses grupos promovem ações diversas, desde eventos até criações de plataformas específicas, sempre com o objetivo de evidenciar a cultura negra, o racismo no Brasil e as estratégias para diminuir a marginalização do negro, além de redescobrir as raízes deste grupo tão rico em história. Hoje serão apresentados alguns deles.
Levante Negro
Criado em 2015, o Levante Negro é um coletivo de caráter informativo. Sua principal forma de comunicação é via conteúdos temáticos. Por exemplo, a divulgação do trabalho de profissionais negros de diversas áreas do conhecimento, como Comunicação, Astronomia, Farmácia e Educação. Desta forma, levam para a audiência uma representatividade concreta, que possa servir de inspiração principalmente para jovens negros em início de carreira.
Outra série de conteúdos aborda 30 motivos para a existência do Dia da Consciência Negra. Neste caso, são publicadas imagens históricas que mostram a situação do negro em situações diversas, acompanhadas de texto explicativo. Temas como violência contra a população negra, saúde pública e ações culturais também são pautas abordadas pelo coletivo. Seguir a página do Levante Negro é certeza de manter-se bem informado sobre temas muito diversos sob o ponto de vista da população negra.
Mas, como uma ironia cruel, o Levante Negro é frequentemente alvo de ataques, o que deixa evidente a importância do trabalho deste grupo. Acusações como “vitimismo” acabam se tornando rotina na vida dos integrantes, que trabalham diariamente com curadoria e produção de conteúdo educativo de alta qualidade.
Marca do coletivo Levante Negro
Blogueiras Negras
Nascida a partir de uma Blogagem Coletiva e hoje coordenada por Charô Nunes, Larissa Santiago e Maria Rita Casagrande, a plataforma colaborativa é formada por mulheres negras e afrodescendentes que compartilham um muitos pontos em comum, mas um em específiico: se comunicar com outras mulheres negras. Por isso a dinâmica é bem aberta, e qualquer mulher negra com uma ideia na cabeça pode escrever para o site e participar dos eventos organizados pela coordenação. O intuito é que a comunicação horizontal sirva para levar informação sobre campos de interesse diversos. Temas como maternidade, relacionamentos, mercado de trabalho, carreiras profissionais, estudos, literatura, ciência, racismo estrutural, entre outros, são abordados em textos publicados respeitando a singularidade de cada autora.
Os resultados do trabalho das Blogueiras Negras são visíveis: cada vez mais meninas e mulheres podem contar com um veículo aberto que abraça as pautas que a mídia tradicional costumeiramente negligencia, e isso ajuda na criação de elos de conhecimento, onde cada autora torna-se uma multiplicadora de vozes. Textos como o que fala sobre os desafios de criar um filho sozinha ou as problemáticas do racismo na infância ajudam a refletir sobre situações que precisam ser abordadas de forma explícita, ou seja, uma luta contínua contra a invisibilidade das mulheres negras e estereótipos historicamente atribuídos a este grupo como, por exemplo, a figura da “mulata gostosa” ou da empregada doméstica.
Aqui a escrita é uma forte ferramenta política em um ambiente virtual criado por e para mulheres negras, e aberto a todos que quiserem compreender melhor as dinâmicas sociais com recorte de classe e gênero.
Marca do coletivo Blogueiras Negras
Mães de Maio
Desde 2009 as Mães de Maio pautam a violência contra jovens negros como principal pilar de sua luta contra a impunidade. O caso que ficou conhecido como “Crimes de Maio”, ocorrido em maio de 2006, onde 493 pessoas foram mortas, em sua maioria pobres, negros e periféricos, levaram estas mulheres a erguerem suas vozes em um coro de exigência por justiça. Já foram tema de documentário e são presença forte em protestos, plenárias, debates e outros eventos feitos na intenção de não permitir que a sociedade e o governo esqueçam a situação de extrema vulnerabilidade social que as vítimas se encontravam e cujas famílias foram fortemente atingidas.
Em sua página no Facebook, as Mães de Maio criaram um canal informativo onde divulgam suas ações, agenda e notícias sobre casos de violência urbana. Recentemente lançaram o livro "Mães em Luta: dez anos dos crimes de maio de 2006", e trouxeram para o Brasil a hashtag #BlackLivesMatter, aqui adaptada para #BlackBrazilianLivesMatter.
As Mães de Maio não se colocam como um coletivo negro especificamente, porém, a associação acontece principalmente pelos fatos de os negros serem a maioria entre as populações mais pobres e serem os mais atingidos pela violência que acomete as periferias. Vale a pena seguir a página e acompanhar as atividades dessas guerreiras.
Mães de Maio reunidas na Faculdade de Direito da USP - Largo de São Francisco. Créditos da foto: Ailton Martins
Carolina de Jesus na favela do Canindé, São Paulo
- Libertas entre sobrados – Lorena Telles
A obra é fruto da pesquisa de doutorado da historiadora Lorena Telles, que estudou a situação de empregadas domésticas negras na cidade de São Paulo no período do pós abolição. A importante deste material está no fato de a autora ter decupado a origem da função do trabalho doméstico como clara reminiscência de tarefas atribuídas a negros escravizados e símbolo de status para famílias abastadas. Por meios desta leitura é possível traçar um paralelo com o atual modelo de trabalho doméstico e os principais desafios da profissão, que até hoje é pouco debatida e ainda significa uma atividade com potencial risco para a saúde física e mental de mulheres pobres.
Capa do livro #MeuAmigoSecreto: feminismo além das redes, lançado pelo coletivo Não Me Kahlo



- Recheie a sua estante com informação

- #MeuAmigoSecreto: feminismo além das redes – Coletivo Não Me Kahlo O livro nasceu da campanha que viralizou no final de 2015, e fala sobre o machismo sofrido por mulheres com homens de seu convívio, como irmãos, amigos, chefes, professores e namorados. Um dos capítulos fala especificamente de mulheres negras, seus desafios, as consequências do racismo para a economia e dificuldades de inserção no mercado de trabalho por problemas atribuídos a machismo e racismo. No mês de seu lançamento a obra figurou entre os 10 livros de não-ficção mais vendidos.

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